27 de outubro de 2008

O instinto do lobo sobrevive às cegueiras

O filme o “ensaio sobre a cegueira” exibe algumas pessoas que, ao se depararem com uma repentina e desconhecida falta de visão, são isoladas em um local inóspito. Elas aprendem a lidar com seus medos, preconceitos e a sobreviver entre o pior mal: o homem.
Em pequenos grupos mantém a educação e integridade humana. Porém, com a chegada de outras dezenas de deficientes, o que deveria ser solidariedade social - por vivenciarem do mesmo mal - vira caos e horror, nos fazendo lembrar da famosa frase “o homem é o lobo do homem”, do filósofo Thomas Hobbes.
Pela sobrevivência precisam doar seus corpos, dignidade e mente, perdendo o discernimento do real e da ficção.
Dentre todos, apenas a esposa de um médico não foi afetada pela doença. Protagonizada pela atriz Julianne Moore, a mulher torna-se a base da razão e civilidade aos que necessitam enxergar.
A visão desta mulher chega a ser um castigo, pois é a única ali que pode enxergar a degradação humana.
Neste filme, inspirado no livro de José Saramago, o diretor Fernando Meirelles desafia o telespectador a pressentir seus próprios atos e preconceitos.
Sem dúvidas alguma, Meirelles não dirige filmes para colorir o olhar da sociedade. Assim como em Cidade de Deus (2002), o filme choca o público, pois cada um se transporta às cenas mostradas e, mesmo sem admitir, percebemos que fazemos parte e alimentamos o sistema que negamos sempre.

Uma poesia, um jornal, uma vida

A poesia de sua essência e profissionalismo está evidente a cada palavra pronunciada. Sandra Regina Mathias, 51, jornalista, escritora e poetisa, numa entrevista informal com seus alunos, revela passagens de sua vida pessoal e profissional.
Estudante de jornalismo no período da ditadura militar, uma época de repressão aos anseios que são peculiares à profissão, foi afastada de seus sonhos e dedicou-se a família. Morou por 20 anos na capital do Rio de Janeiro e, ao voltar para sua terra natal, São Paulo, retomou seus estudos, recuperando sua maior aspiração: ser jornalista.
Devoradora de livros desde de sua adolescência, e inspirada em grandes escritores como Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Jorge Amado e outros, aos 38 anos reuniu as poesias que escrevia quando pequena e lançou seus dois primeiros livros.
Com a nobreza e sutileza de uma poetisa, sabe que seus livros não tiveram grande marketing por ser não ser conhecida na mídia, “o mercado não dá chances para os anônimos, e muitos talentos se perdem pela falta de esperança”, diz Sandra.
Seu maior projeto nasceu na defesa de seu TCC (trabalho de conclusão de curso) quando ainda aluna, pesquisando e escrevendo a história do menino Ives Ota, assassinado aos 8 anos após seu seqüestro.
O que antes era apenas um trabalho acadêmico virou o livro “O poder do Perdão”, não só por descrever a história que chocou o país, mas por expressar sentimentos de dor e perdão da família que perdeu seu filho amado., quando questionada sobre o momento marcante desse desafio conta “O momento mais difícil foi lidar com a dor dos pais”.
Dentre todos os sonhos e objetivos a alcançar, revela que ainda não está realizada profissionalmente, mas vê perfeição todos os dias, em sua família, amigos, tudo que se dedica e faz, “o dia mais perfeito é o dia de hoje”, diz com sorriso no rosto e esperança no olhar.

Histórias em quadrinhos: infância revelada

O gerente de contas, de uma empresa na área da comunicação, nos revela o prazer das histórias em quadrinhos que leu na infância e estão registradas em sua memória e na sua coleção de quase mil HQs


Quem encontra o homem alto, com paletó e gravata, demonstrando a seriedade e responsabilidade de sua profissão, não imagina que ali se esconde um admirador de HQs – Histórias em Quadrinhos.
Luiz Fernando Gonçalves de Souza, 31 anos, lembra que ganhou sua primeira HQ aos 5 anos de idade, para treinar sua leitura. Foi neste momento que nasceu sua paixão pelos super-heróis. Quem ele mais curtia, e ainda curte, é o Homem-Aranha. “Eu chegava a ficar angustiado quando acontecia algo ruim com o personagem, me sentia na pele dele”, diz, sorrindo com a lembrança.
Hoje, com a correria de sua profissão, deixou de comprar HQs, até por surgirem outros interesses, entre eles o esporte. Diz não ter mais tempo para ler tudo que sai nas bancas de jornais. Com jeito de criança, pergunta: “Imagine ir ao trabalho e voltar dele voando como o Super-Man?.”
Solteiro e sem filhos, revela que suas revistas – quase mil exemplares - estão bem guardadas. Não pensa em doar ou vender, pois algumas são edições especiais e raras, mas planeja em deixá-las à sua futura família. Diz que as HQs são mundos de fantasias, que não podem faltar na vida das crianças, principalmente pela mensagem que elas deixam. “As HQs estimulam o pensamento e a criatividade, mostram cenários do futuro e transmitem mensagens sobre como vencer o mal”, Souza diz poeticamente.
Toda a pose de um profissional sério cai por terra. Como o Super-Homem, Souza sai do ambiente em que estávamos e volta com um largo sorriso (como uma criança), vestindo uma alegre e divertida camiseta azul; traz, em sua mãos, alguns exemplares de suas revistas que valem ouro: as melhores lembranças de sua infância e adolescência.
Posando para a foto Souza ainda filosofa: “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades, e os milagres acontecem quando acreditamos neles”.